São Paulo, 1 de novembro de 1979
Mais um sinal de esperança surge para nós, povo brasileiro, que somos submetidos e enfrentamos esse governo abusivo há uma década e meia. Já aprovada em agosto por João Figueiredo, hoje, primeiro de novembro de 1979, vemos o benefício que a Lei da Anistia proporcionou aos exilados políticos, dentre tantas outras pessoas que sofreram com as represálias impostas pela censura.
Mais um sinal de esperança surge para nós, povo brasileiro, que somos submetidos e enfrentamos esse governo abusivo há uma década e meia. Já aprovada em agosto por João Figueiredo, hoje, primeiro de novembro de 1979, vemos o benefício que a Lei da Anistia proporcionou aos exilados políticos, dentre tantas outras pessoas que sofreram com as represálias impostas pela censura.
Há mais de dez anos lutamos pela anistia em nosso país, de início tímido, com a voz de estudantes, jornalistas e alguns políticos e com o passar dos anos - e nenhum resultado - mais adesões foram feitas. Depois de tanto tempo de luta e de comitês formados com filhos, mães, esposas e amigos de presos, uma parte de nossa busca foi atingida.
O que queríamos era uma anistia ampla e irrestrita a todos os companheiros de luta que foram exilados durante a época mais tensa e rude da opressão que sofremos. Muitas vezes chegamos perto de conseguir, mas nossos esforços acabavam sendo em vão e, nossos projetos, recusados.
Ano passado, em junho, fundamos no Rio de Janeiro o Comitê Brasileiro pela Anistia e diante de movimentos tão fortes, o governo acabou por encaminhar o projeto ao governo, porém com suas modificações, que beneficiavam em grande parte os militares, principalmente aqueles que foram responsáveis pelas práticas de tortura.
Conseguimos colocar quase três mil pessoas participando, em Brasília, de um ato público a favor da lei e ganhamos, por 206 votos contra 201. Foi algo tão bonito que hoje, dois meses depois, vendo o resultado dessa batalha, ainda tenho um sentimento de vitória que há tempos não sabia mais o que era.
O benefício atingiu estudantes, professores e cientistas afastados das instituições de ensino e pesquisa nos anos anteriores, mas excluiu os condenados pelos "crimes de sangue", atos de quando utilizávamos a luta armada para combater o regime militar.
Nosso apelo por uma anistia irrestrita não foi aceito e é revoltante ver militares que participaram da tortura contra tantas pessoas queridas sendo anistiados, mas considerando o que vínhamos enfrentando, já é mais uma luz brilhando, que nos incentiva a não desistir da luta. Tínhamos cinquenta e dois presos políticos. Até o momento dezessete já foram liberados e continuamos à espera de que os outros trinta e cinco também tenham essa sorte.
A luta ainda não acabou, mas vencemos uma batalha!