São Paulo, 1981.
Soubemos hoje, por fonte segura, que o Serviço Nacional de Informações obteve ordem para destruir quase 20 mil documentos secretos, que poderiam ser usados contra eles, caso algum dia obtenhamos a democracia e a paz de volta às nossas vidas, além de relatórios e documentos sobre pessoas conhecidas, que não eram interessantes de serem mantidos, por conterem sabe-se lá Deus o quê.
Dentre esses documentos, haviam relatórios sobre personalidades conhecidas por mim, por você, pelos seus filhos e que jamais terão seu conteúdo conhecidos. Desde políticos, passando por arcebispos e chegando até mesmo, e não há de haver espanto nisso, a Vinícius de Moraes e outros compositores que costumam, ou costumavam, incomodar os severos comandantes do SNI. Eles ainda dizem que estão de acordo com a lei.
E que lei é essa, que ajuda os sujos a limparem sua sujeira, sujeira que pelo andar da carruagem jamais poderá ser combatida de frente? Eles ainda possuem um resumo mínimo, apenas para terem o controle do que foi destruído. Duas linhas que ocultam, para sempre, relatos sobre pessoas, assim como eu sou, que em algum momento não foram “boas” o suficiente, dentro do que esses homens acham que é ser “bom” ou “correto”.
Confirmamos que o General Newton Cruz foi uma das pessoas envolvidas na autorização de destruição de tais documentos. Ainda passamos por momentos complicados, tensos, preocupantes e além de tudo, temos que ver, dia após dias, restos de esperança se esvaindo em assinaturas de homens que pensam apenas em si. Que se preocupam mais em esconder fatos que poderiam incomodar alguns militares, como supostas contas bancárias no exterior ou a infiltração de subversivos no Banco do Brasil do que em restaurar alguma democracia nesse país que deveria ser nosso, de todos os brasileiros.
Continuamos nos perguntando aonde iremos parar, se sobrevivermos a tanta repressão assim. Por enquanto, é o que tenho para mostrar. Continuamos tristes com tanta injustiça, mas não paramos de lutar.
Até breve!